A Qualidade de Vida em Tempos de Crise
A qualidade de vida é um tema recente na Psicologia e na cultura organizacional.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1995) a tem como item imprescindível para o desenvolvimento humano. Porque é o foco das principais empresas? Parece óbvio, mas não é nada simples na prática de um país extenso e com uma política instável como o Brasil. Embora seja quase um consenso a crença de que colaboradores com maior qualidade de vida tendam a serem mais produtivos a curto, médio e no longo prazo.
Numa situação de instabilidade política, o clima de insegurança é enorme. Desde o temor da demissão à sobrecarga de trabalho para quem fica, em que o estresse continuado no ambiente de trabalho tenderá a se escoar no ambiente doméstico. A agressão é uma bola de neve, surgindo aos poucos e se somando lentamente até culminar numa atitude extrema. O desafio é vencer a desesperança e o desespero. Os consultórios psiquiátricos estão lotados: insônia, transtornos de pânico, insônia e compulsões diversas. Logo, destacar o bem-estar pode ser uma utopia.
Contudo, líderes humanistas reconhecem a importância de haver um clima de maior cooperação como estratégia mais assertiva de sobrevivência. Na crise, apenas os fortes sobrevivem. A força não está na agressividade, pois esta conduta fragiliza os vínculos sociais. A força está justamente em quem sabe se relacionar, fortalecendo os vínculos sociais em prol de um objetivo maior, se aliando uns aos outros, primeiro pelas necessidades biológicas (nutrição, proteção, sono e excreção) concomitantemente pelas necessidades psicológicas (ser aceito, ser amado, reconhecido, amar e ser respeitado).
A estabilidade psicológica é imprescindível à qualidade de vida. O cérebro precisa de padrões mínimos para se situar na teia social segura para constituir a autonomia. E esta maturação psicológica passa pela socialização, que se traduz por civilidade, gentileza e cordialidade.
Listar pequenas ações que tragam luz ou positividade, para perceber e até apreciar as benesses de uma vida serena como por exemplo organizar uma refeição preparada em casa, e com isso, perceber discretamente as pequenas mudanças pelas quais os familiares vem passando, de hábitos, de rotinas, de novos passatempos, as séries e filmes que apreciam, as mudanças de escolhas amorosas. Desacelerar permite uma aproximação mais humana que qualificará o vínculo entre Cuidadores e Prole, os mesmos com os idosos, a relação com os animais, o ambiente e à Natureza, para se harmonizar consigo próprio num todo muito maior que a dor.
Enfim, buscando o encanto sútil nas pequenas ações. De que adianta chegar ao topo do Everest sozinho? Reconstruir as relações de amizade, quase sempre negligenciadas pela overdose de afazeres e jornadas longas de trabalho intenso, são comprovadamente a escolha de maior acesso à positividade. Há pesquisas que indicam que o encontro de dez minutos de conversa presencial com um amigo equivale ao efeito positivo de uma sessão de 50 minutos de psicoterapia. Porque ter mais do que se precisa? Não se leva nada da vida além de boas lembranças.
A proximidade familiar, nos faz acessar os momentos lúdicos da própria infância ou a dos filhos, como por exemplo, o cheiro de tangerina, o aroma de pão caseiro da Nona feito à lenha. Essas pequenas memórias são restauradoras para o nosso cérebro, nos reconectam com o que há de mais humano em nossa essência: o vínculo pelo cuidado, pela atenção, pela ternura.
As pessoas mais afetadas pelo estresse, apresentam um “branco”, sintoma típico do excesso de cortisol no organismo. Espero que você não seja um deles, pois nem se lembrará do que está lendo agora. É preciso evidenciar que o nosso cérebro, pelo recurso de sobrevivência, nos faz intensificar as memórias negativas até o extremo em que as memórias positivas são bloqueadas, parecendo que a pessoa pareça viver acuado em um beco sem saída (visão em túnel: termo técnico na Terapia Cognitiva).
O desafio da Psicologia Positiva é ampliar a memória positiva a fim de neutralizar os efeitos da memória negativa. Por isso, os colaboradores mais otimistas são mais hábeis na resolução de problemas. A positividade permite maior flexibilidade mental, fator essencial para a criatividade.
A Psicologia Positiva se apoia em evidências científicas tendo hoje o maior orçamento em pesquisa da Psicologia. Para se ter uma ideia de sua importância, o exército estadunidense recebe acompanhamento técnico do Dr.Martin Seligman através da Universidade da Pensilvânia/USA (Seligman, 2011). A premissa é muito simples: se o bem-estar pode ser criado, então pode ser mantido e também expandido, ou seja, potencializado (Seligman e Csikszentmihalyi, 2000). É necessário apenas que o colaborador tenha consciência plena da importância, para que a sua atenção selecione as oportunidades, sem cair na armadilha do catastrofismo que atrofia sua percepção de mundo, tanto quanto uma miopia.
É importante ressaltar que ao contrário das emoções negativas, as emoções positivas são sempre mais brandas, sutis e discretas, mas em contrapartida são mais extensas e duradouras, quanto mais frequente forem vivenciadas pelo ser humano, permitindo a estabilidade mental saudável e logo, também positiva.
A serenidade é parte da essência humana uma vez que a nossa longa história, pois enquanto espécie passamos por longos períodos de paz, mais do que períodos de guerra.
Com certeza se seu prazer básico for saborear um copo de água potável gelada, mergulhar em Fernando de Noronha, ou mesmo meditar no Ceilão, a sua experiência tenderá a ser amplificada e por isso muito mais prazerosa, se você estiver mais conectado com o que há de mais positivo em você: as suas emoções positivas. … que são o tempero da comida, o perfume das flores, o azul do céu e até mesmo a beleza de um dia nublado e da chuva tímida de uma madrugada escura.
FONTE: COLL BUSINESS NEWS